terça-feira, 20 de setembro de 2011

Já havia algum tempo que não pronunciava a palavra PAI, até certa tarde cinza que ouvi sua voz no celular, não recordei de imediato, até sua tão simples identificação: Sou eu, seu pai.

Faltou rapidez, não soube o que dizer, nem precisei responder, pois seu recado foi breve, ele veio aqui, talvez pela primeira vez, como inesperada foi minha lagrima delicada, também foi a agilidade de passar a mão na chave e ir ao seu encontro, sim, já havia ensaiado muitas vezes esse encontro, e quando pus meus olhos naquele ser que me concedeu vida, tudo continuou cinza como antes, as palavras destoavam e até as mãos ficaram tremulas.

As lembranças daquele homem sorridente e carinhoso, agora tornou-se um certo tipo de lamento, quando notei que seus cabelos já haviam embranquecido, sua pele já não era mais a mesma, seu sorriso eu nem pude notar, ele parecia ter desaparecido com o passar de todos esses anos assim como seu rosto em mente, ele não me pôs no colo e nem inventou uma daquelas historias que eu sempre queria ouvir um pouco mais, o abraço foi rápido e desajeitado, não sabia mais como tocar aquele homem, homem livre, me perguntava o que ele fazia no desenrolar das horas, como eram seus dias, o que ele gostava de comer, se existe uma música preferida, se amava, se nessas horas em que a gente não pensa em nada ele pensava em mim.

Respirei fundo quase o tempo todo para não deixar que notasse o tamanho da minha emoção, até que tive coragem de reparar melhor nele ele, usava uma camisa de botão vermelha, os olhos verdes que não herdei, umas medidas que até então eram desconhecidas, pelo visto anda tomando muito sol, deduzi que não se lembra mais de mim com freqüência, e também desconhecia a mulher que me tornei, não soube entender direito sobre meu trabalho, acho que também não se orgulhou, ele sempre quis ter uma filha veterinária e que tocasse piano, acabei me tornando agrimensora e nunca aprendi tocar piano, desenvolvi um sotaque que não parece nem longe com dele, notei que ouvia com surpresa meus pensamentos, talvez tenha admirado minha inteligência.

Abriu a carteira e tirou algumas notas de dinheiro, fiquei observando, e tentei dizer que por um abraço eu me venderia por inteira, mas não tive coragem de pedir, nem ele me teve coragem de adivinhar, mesmo com tantas evidencias. Ao sair me abençoou, desejei sorte em sua viagem, e no por do sol em seu carro vermelho deixou a cidade, sai berrando todos os palavrões, me segurei para não acelerar atrás dele, e dizer tudo que queria que soubesse sobre mim, sobre como formei meus valores, caráter, dignidade e como sinto sua falta, falta da proteção, do afago, do boa noite, mas não fiz.

Liguei o som bem alto para não querer pensar, e descobri que tenho formas singulares de dizer eu te amo, tenho convicção que disse, saudade também disse, da minha forma é claro, acabei dizendo que aprendi com ele a pratica de sentimentos que me ajudaram a chegar onde estou, desapego é uma delas, reconheci que sua visita não vez bem, mas, saberei muito bem que meu filho não vai gozar dos sentimentos que tenho aqui, que afeto não se mendiga de pai, nem de ninguém, e que sincera será a formação de sua integridade, sem pesos difíceis de serem carregados, isso não me vez ver o mundo com mais aspereza, mas certamente me fez entender que cada pessoa tem sua forma de amar, e mesmo que não dedique seus esforços a minhas expectativas, o amor existe, e isso tem que ser visto ainda que desentendido.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Menina

Noite fria de lua cheia, e então me sinto uma daquelas velhas menina nova, amando pela primeira vez e fazendo coraçãozinho em volta dos nossos nomes, um amor teimoso, de menina.

E eu, então sinto uma saudade, uma saudade muito grande daquele tempo onde tudo era sorriso, pelo menos na minha alma, tudo era um bem-querer leve, devagar, tudo parecia tão certo e bom, que agora consigo te embalar dentro de mim só na solidão dessa velha lembrança.

Ah... que vontade de escrever bobagens, bobagens bem melosas, para que alguém que leia pense que sou mesmo uma menina cumprida aprendendo o que é o amor, mas não é assim que vejo minha imagem no espelho, olho-me e vejo que estou velha, com essa úlcera parece que vou morrer, trancada num corpo jovem.

Talvez eu seja mesmo uma menina... Mas que já se foi no vazio da maturidade e hoje só consiga enxergar imensidão vazia, queria mesmo me jogar como eles se jogaram antes, sem medo de cair e me ralar todinha, acho que maturidade nos impede da aventura.

Crescer as vezes é retroceder, um passo inevitável, crescer nos faz egoístas, por que de tanta dor só resta o bloqueio, a insanidade de não ganhar com medo de perder.
Nessa madrugada me sinto fria, tocada pelo silêncio e som do mastigar, a intolerância latente ao som que sai da sua boca.

Tolice! Tudo isso é ansiedade, vontade que tocar o céu, abraçar as estrelas, mas ansiedade não é coisa de adolescente? Não, isso é coisa de gente rara, que mistura uma alma nova que nasce todos os dias com os olhos de suspiro, intensidade.

Lembrei-me daquela música que sorrindo, falamos pro mundo que era nossa canção ”Dona da minha cabeça ela vem como um carnaval, toda paixão recomeça, ela é bonita demais” hoje essas letras se tornam parte de uma carta de amor, que se espera uma resposta, mas ela nunca veio, palavras bobas, belas, minhas...
Ah..que saudade.

Por que ao invés de frio, faz muito calor hoje.




Passei o dia imaginando que poderia ser afeito climático, mas só agora, deitada no meu silêncio, que soube como as coisas ficam pequenas demais se perto do vazio dos dias, e foi assim que debrucei-me em pérvias lembranças flutuantes, desorganizas, mutiladas, tolas, peguei a ficar assim; com um descontentamento, tristezas sem fonte, confissionalimos baratos, incompreensões que se diziam convictos e indiscutíveis palpites.

Essas aptidões a sentimentos de anseio tem sintomas de infinitude, mas passam.
O bom passa mais...

É a vontade de já ter sabido mais sobre a Espanha, e é mais um medo que qualquer outra coisa, me faltam a gentileza dos acasos.

Valer-ser do andamento dos dias para dar atenção ao branquejar do verde dos olhos, a miudeza dos lábios e a queda das olheras.
Mas as vezes é só uma tristeza.

E foi quando me pôs em teu colo para dizer que docemente esperava que eu desabrochasse (já faz algum tempo, suas palavras não destoavam) soube como as coisas ficam pequenas demais se perto do vazio dos dias, que acho que me dei conta de que o que tenho sentido nos últimos dias, não é bobagem.