terça-feira, 8 de janeiro de 2013

22 anos



Daqui despeço-me das angústias. Que todas elas se desmanchem, ainda que lentamente, e se descolem da minha retina.

Que meus gestos a partir de agora, sejam breves e felizes, e que todos os espaços sejam preenchidos de tudo de maravilhoso que vivi e me trouxe de pé até este ponto. Inevitavelmente, foram tantos estragos e dentro do peito ficaram espalhadas desilusões e incontáveis fracassos.


Mas daqui, agora, levanto uma das mãos com o olhar mais sereno que posso e me despeço das mentiras que não pude notar. Enquanto acreditei em cada uma delas, me desfazia do meu melhor tirando as cores da face como quem destrói uma flor, pétala por pétala. Até ao fim do dia, me deparar com tudo que me tirava o alívio da alma e entender, que o que nos mantém no chão frio de um sonho compartilhado e não correspondido, nada mais é do que o medo de uma rejeição. Que pode partir de nós, do outro ou até mesmo do próprio sonho.
Ainda que pareçam infinitas as dúvidas que nos atiram ao acaso, elas terminam. Como um pôr-do-sol que leva embora todo o calor insuportável do dia trazendo uma noite fresca, mas sim, elas recomeçam diariamente, porém são dúvidas novas que nos permite ser capaz de conduzilas.
Foi preciso ficar cansada, chegar ao limite da exaustão do sentimento, gastar a energia dos passos, dos abraços e das orações para que enfim me deixasse invadir por um desapego que pudesse me trazer a tona. Assim, neste instante às margens de mim mesma, me despeço da euforia antes enganada e dou boas vindas ao que vier de flores novas.


Despedi-me e distanciei-me de tudo no mundo. Muda, me encolhi. Desnuda, me acolhi.
Num chão frio de um banheiro imundo, chorei insatisfações.
Esvaziei-me até que vida me devolvesse o ar. Te abandonei, adeus. Abandonei-me, à Deus.
Agora não estou na Terra, agora estou na vida.